O que vemos quando fechamos os olhos? Quanto tempo conseguimos ficar de olhos fechados em meio aos sons, cheiros e ao vento que esbarra em nossa pele? Nesseintervalo, quais imagens chegam até nós? Essas questões nos convidam a entrar na exposição coletiva Quando fechamos os olhos vemos mais perto, realizada por doze fotógrafos cegos participantes da Escola de Fotógrafos Cegos (E.F.C.), entre os meses de agosto de 2022 e abril de 2023. Após oito meses de atividades, os alunos da E.F.C., juntamente com professores, artistas e fotógrafos, construíram um arcabouço de imagens que nos fazem imergir em personagens encantados, momentos íntimos da casa, cenas cotidianas, objetos escondidos nas esquinas dos lugares esquecidos. Divididos em oito módulos que estão espalhados pelo parque, os alunos experenciaram novos meios de manipular a máquina fotográfica, de explorar os sentidos do corpo, de fazer essa “jornada de enxergar sem os olhos abertos”, como nos declara Geovana, uma das alunas do projeto. São imagens que revelam o mundo físico disso que já existe na imaginação e no universo particular de cada um. Como nos diz Kéllezy, outra integrante do grupo, “trabalhar com imagens se tornou um processo de exploração: do meu corpo, com os meus sentidos, com os meus sentimentos”. Por meio dessas investigações, as fotografias aqui expostas nos fazem navegar pelo espaço infinito do não-ver. Em outras palavras, elas nos questionam: afinal, o que seria ver? Neste mundo saturado de imagens no qual muito se vê, porém pouco se olha, os fotógrafos cegos, para além de solicitarem o mundo visual ao clicarem no disparador da câmera, nos convidam a olhar mais de perto. Olhar mais de perto para as imagens que não pertencem à visão, mas ao mundo invisível do olhar, dos sonhos, das imagens que emergem e desvanecem repentinamente da nossa memória. Imagens que nos habitam desde a infância, que nos arrepiam a pele, que nos transportam no tempo. Imagens que só vemos mais perto quando fechamos os olhos.
Bárbara Bragato